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[RESENHA] HERÓIS ESCONDENDO A SUJEIRA DEBAIXO DAS CAPAS

Depois de tantos filmes e séries envolvendo o universo de super-heróis, é normal se sentir meio cheio do molde em que eles são feitos, mas temos aqui algo fora da curva, que por mais que tenha super-humanos como peça central de um mecanismo depravado, os temas tratados mais se assemelham ao mundo em que vivemos do que o mundo fantasioso que são entregues principalmente pela MCU ou DC.

Eric Kripke, Evan Goldberg e Seth Rogen são os responsáveis por isso ao desenvolver a série The Boys, distribuída pela Amazon Prime Vídeo. Baseada nas histórias em quadrinhos com roteiro de Garth Ennis, famoso por seus enredos de ação desenfreada, violência impactante e humor sem limites, como em Preacher, e arcos em que escreveu para o Justiceiro e Hellbrazer, o seriado foi dividido em 8 episódios e já ganhou uma segunda temporada confirmada pela plataforma de streaming.


Basicamente a trama se centraliza nas injustiças em que super-heróis (um tanto que irresponsáveis) cometem contra a população, e um grupo de 4 sujeitos (os Rapazes) que tentam provar o quanto isso pode ser prejudicial para a sociedade, embora ajam de maneira ilícita e perigosa na maioria das vezes.


Ou seja, não espere ver lutas épicas e um show de efeitos visuais com poderes insanos, não é uma série do bem contra o mal, herói conta vilão. Não é tão simples assim. E com certeza não é algo para toda a família. Com cenas de violência gratuita, sexo explícito, linguagem suja, abuso de drogas, e piadas com todo tipo de coisa (religião, doenças, mortes), pode ser que não agrade a todos. Porém, esse é o mundo real, não há como fugir disso, não é mesmo? Na série os super-heróis são usados como as pessoas corrompidas pela fama, pelo dinheiro e pelo poder, mas aqui entre nós, são os atores, os músicos, os atletas esportivos, ou qualquer outro tipo de celebridade. Quantas notícias não saíram recentemente sobre esses grandes nomes envolvidos em polêmicas pesadas? Como estupro de atores consagrados, músicos no auge morrendo de overdose, orgias com atletas e celebridades em locais afastados? Todo esse tipo de sujeira que a maioria dos nossos “ídolos” tentam esconder de alguma forma, para que, diante das câmeras, nos mostrem um lado falso e controlado.


Em The Boys é praticamente a mesma ideia. Em um mundo onde ter superpoderes é considerado comum, mas também uma benção de Deus, Os Sete é um grupo de super-humanos amado pela nação estadunidense (uma paródia da Liga da Justiça), monitorados por uma corporação que lhes fornecem missões contra o crime, eventos em que devem participar, cuidados com o direito de imagem, etc. Ou seja, tudo é devidamente um grande negócio, onde a aparência e publicidade às vezes são mais importantes do que salvar alguém em perigo. Além disso, todos da equipe possuem segredos obscuros e sofrem de algum tipo de controle vicioso, e diria até problemas psicológicos graves. Mas escondem isso através de suas “boas ações” diárias captadas estrategicamente pela mídia, e como estão no topo do mundo, não querem perder essa posição, nem mesmo falhar com os objetivos da empresa em que atuam, mesmo que tenham que ir até as últimas consequências.

(Luz-Estrela, Profundo, Rainha Maeve, Capitão Pátria, Black Noir, Trem-Bala, Translúcido)


Já os 4 rapazes que tentam desmascará-los ao público, por sua vez não são menos problemáticos, ou os mais honrados no meio para combater toda a sujeira que há na comunidade heroica, porém são os únicos destemidos a irem contra o sistema (e contra inimigos que podem te fritar com lasers ópticos em questão de segundos).


(Billy Bruto, Francês, Leitinho e Hughie)


Particularmente, acho Os Sete melhores trabalhados do que os Rapazes, que são os mocinhos aqui. Hughie e Bruto se destacam, mesmo assim ainda possuem personalidades clichês e estereotipadas, como o restante do quarteto. Já os supers, apesar de serem parodiados de heróis que já conhecemos, são muito mais interessantes e abordam temas originais, em especial o Capitão Pátria e Luz-Estrela, que por sinal é a única entre eles que quer fazer a coisa certa. Depois que a mesma entra para o time para substituir um dos membros, descobre que as coisas não eram como sonhava quando criança.


Sobre as atuações, todos parecem estar à vontade, mesmo em situações bizarras ou vestindo trajes apertados e coloridos. Destaque para Elisabeth Shue (imagem a direita) como Madelyn Stillwell, e para Anthony Starr (imagem a direita) como Capitão Pátria. No mais, o carisma de Karl Urban como Billy Bruto carrega muitas cenas, mas não chega a ser algo que roube as atenções a todo momento, como seus últimos trabalhos em Star Trek e Thor Ragnarok.

Bem, a série me agradou e entrega muito bem aquilo que propõe, e mesmo com seu humor meio deslocado e provocativo, alguns diálogos longos de mais, e cenas meio gore, me faz querer logo assistir a segunda temporada. E quando digo que entrega aquilo que propõe, entrega mesmo, e isso acaba sendo até um incômodo, pelo motivo que nós que amamos esse mundo de heróis, nos enxergamos nas pessoas que eles humilham e zombam de serem fãs. Isso incomoda porque não queremos que fosse assim caso nossos heróis favoritos existissem de verdade. Mas onde está a garantia que não fosse acontecer? Cada vez mais está difícil seguir uma pessoa que acreditamos merecer nossa atenção, nossa admiração, e nosso dinheiro. Será que no mundo real, o Batman ou o Homem-Aranha se corromperiam? Responder que “não” veemente seria consciente ou só mais uma resposta de fã que não consegue aceitar a realidade? Não há garantias, isso é fato.


Essa foi nossa resenha de The Boys, que para mim, inicia muito bem, mas dá uma leve caída nos episódios finais, principalmente pelo último episódio não ter cara de fechamento de arco, sabe? Mas ainda assim surpreende, e possui um futuro positivo pela frente.


E aqui uma dica, se quer saber se vale a pena acompanhar a série, assista pelo menos até os primeiros 5 minutos do episódio 1. Se você não ficar boquiaberto com o que acabou de assistir e não sentir curiosidade sobre o que irá acontecer depois disso, então realmente não é para você.


Não foi o meu caso.

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