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[Resenha] Pluto vol.1 – Robôs Humanizados Num Mundo Desumano

No mês de fevereiro de 2019, a série de mangá Pluto foi finalmente concluída em seu oitavo volume pela editora Panini aqui no Brasil, por isso se ainda não deu uma chance para essa história fantástica escrita e ilustrada pelo mestre do suspense, Naoki Urasawa (Monster, 20th Century Boys e Billy Bat), leia nossa resenha do volume 1 para se sentir ainda mais tentado a embarcar nesse mundo de muito mistério, ficção cientifica e momentos de tirar o fôlego!

Para começar, é importante saber que Urasawa se baseou na série Astro Boy de Osamu Tezuka para criar Pluto, mais precisamente no famoso arco “O Maior Robô da Terra”. Osamu Tezuka é simplesmente um Deus dos mangakás, sendo muito importante até mesmo para a produção de animes, afinal sua inesquecível obra foi a primeira a ganhar uma temporada de animação na televisão japonesa nos anos 60, e provavelmente você já viu a figura do personagem principal em algum lugar, Atom, o simpático robozinho garoto voador. Por isso, seu filho, Macoto Tezka, foi chamado para supervisionar de perto essa nova série para não haver nenhum risco de manchar o legado construído. Com Takashi Nagasaki creditado como coautor da série, Pluto jamais esteve perto de arruinar a obra original, muito pelo contrário. O que Naoki Urasawa conseguiu está além de palavras, mas tentaremos explicar esse brilho a mais adicionado!

A história é completamente reinterpretada, por isso esqueça o ambiente tranquilo e alegre de Astro Boy, ou seja, não é preciso conhecer a série para ler essa, já que são totalmente separadas. Aqui temos um mundo bem mais crível e obscuro, onde pessoas e robôs convivem em igualdade ou pelo menos assim que deveria ser. Bem, por ora nada de novo, não há uma reinvenção da robótica por conta do autor, temos quase as mesmas regras impostas por outros trabalhos de ficção cientifica, principalmente por Isaac Asimov.

Ou seja, as mesmas leis de que um robô não pode matar um ser humano e coisas desse tipo. Entretanto, a beleza fica no modo no qual Urasawa conta os fatos de sua história. Não há linguagem difícil, e quando surge uma questão mais profunda, é tão naturalmente resolvida quanto entendível. Assim sendo, a leitura flui de forma tão agradável que você corre o risco de terminar em poucos minutos esse primeiro volume, e por isso sugiro que a sequência esteja em fácil alcance para não enlouquecer de curiosidade.

A trama é estrelada por Gesicht, um robô que trabalha como detetive da Europol. Alguns robôs possuem aparência humana, sendo que às vezes é impossível diferenciá-los. Gesicht é um desses casos, e além disso ele também é um dos 7 maiores robôs produzidos que foram espalhados pelos continentes. Esse seleto grupo possui habilidades extraordinárias e tecnologia muito avançada, no qual foi de enorme utilidade para vencer guerras que iam contra as leis mundiais e de seus líderes. Um desses robôs, Mont Blanc, teve papel fundamental na última grande guerra. Sempre amoroso e buscando a paz, seguiu travando batalhas para defender as áreas florestais de seu país, e por essas razões se tornou um dos mais queridos pela população, carregando uma legião de fãs. Porém, Mont Blanc é brutalmente destruído, e agora Gesicht precisa descobrir o responsável por conseguir exterminar um robô tão amado e ao mesmo tempo tão poderoso como aquele. Seja quem for, o assassino deixou sua marca: chifres improvisados sobre a cabeça arrancada da vítima. Lembrando que essas informações não são spoilers, pois são a premissa da história. Num curto período de tempo há outro assassinato, dessa vez envolvendo um humano, um importante ativista a favor de direitos robóticos. E lá estão os mesmos chifres de antes, e o que mais deixa Gesicht intrigado é que não há nenhum resquício de que havia outra pessoa no local do crime. Mas como seria possível? Apenas uma vez na história houve uma falha no sistema, isso é: somente uma vez um robô cometeu

um crime contra a humanidade, mas Brau 1589 ainda permanece preso por isso, Gesicht faz questão de ir conferir. Não quero entrar em detalhes nessa parte, mas o diálogo que há entre Gesicht e esse robô assassino é fenomenal. Gosto de como Brau 1589 conduz a conversa, a frieza com o qual tenta se explicar sobre seus atos, e como informa com certo divertimento que os humanos buscaram minuciosamente qualquer tipo de defeito em seu sistema, mas que nunca encontraram nenhum. Acho que isso quer dizer alguma coisa sobre nós, não?

Em todo caso, Gesicht conclui que o misterioso criminoso pode ser o mais perigoso em sua impecável carreira como inspetor, e que talvez todos os 7 maiores robôs mundiais estejam na lista do assassino, o que também o inclui. Isso é mesmo interessante, mas entendo que o chafariz principal do enredo está na maneira de como esses seres artificiais são humanizados, mas não completamente. Cada um desses robôs tenta viver uma vida semelhante às pessoas que estão ao redor, e alguns até possuem família, são independentes e seguem a própria rotina. Eles tentam amar mesmo não sendo capaz de compreender esse sentimento, e alguns conseguem realizar isso melhor do que os humanos de fato, como é o caso de Brando, que decide adotar 5 crianças de verdade para criar e semear o amor. Adoro quando a ficção brinca com a realidade desse modo, quando deixa tudo tão crível a ponto de pensarmos que talvez não há tanta distância assim do que estamos lendo.

É fácil entender que essa é uma história diferente, pois estamos vendo através da lente de uma inteligência artificial. Não se trata apenas de um caso criminal ou cenas de ação desenfreada. Há muita emoção envolvendo o cenário em que os personagens vivem. Há questões filosóficas e assuntos profundos que transcendem a capacidade real do ser humano.

E isso está nos detalhes desse primeiro volume de Pluto. Está no modo no qual Gesicht é confrontado pelas pessoas, no modo no qual uma simples robô de modelo antigo sente a perda e o luto, no modo no qual um robô de auto poder de fogo apenas deseja aprender a tocar piano. Aliás, essa parte onde somos apresentados ao North No 2 e ao seu convívio com o novo patrão é um dos pontos altos! E claro que a arte do autor adiciona demais no crescimento desses sentimentos. É um traço simples, que não inventa muito, e que deixa a coisa ainda mais real e imersivo. Particularmente, adoro os narizes que o Urasawa desenha!

Enfim, não tem como não se envolver com o rico enredo aqui construído, e que é apenas o início de uma obra que respeita muito sua antecessora e original, tanto que foi indicada há vários prêmios, ganhando alguns ao redor do mundo. Pelo preço de 18,90 nas bancas, não deixe de conferir uma das melhores histórias modernas dos mangás! Boa leitura.

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