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[Resenha] Special- uma série com muita representatividade

A Netflix lançou mais uma série que promete muita representatividade e muitas risadas, a comédia Special é a série sobre um jovem LGBT com paralisia cerebral que decide mudar uma vida de isolamento pela vida que sempre quis, mas ele descobre que ser independente não é tão simples. Um dos motivos para assistir é o fato de que essa é a autobiografia do roteirista e ator principal Ryan O’Connell.


Ryan consegue passar para as telas diversas situações cotidianas de uma forma natural, apesar do tom leve e divertido a série trata de diversos assuntos extremamente importantes, situações que a gente acaba se identificando e outras que nos mostram um pouco sobre como são as experiências de pessoas com deficiência e como a acessibilidade é importante, ainda assim também é notável como não estamos preparados para lidar com essas pessoas e como vemos a condição antes de ver o ser humano.



Ryan passa por uma jornada de auto aceitação em relação a sua deficiência e em como isso o define como pessoa, ao mesmo tempo, em que diz que esse não deve ser o fato mais interessante sobre si, ele mesmo se preocupa tanto em não ser apenas a pessoa com paralisia cerebral que isso se torna algo que ele nota o tempo inteiro, além disso, ele descobre como é viver sozinho e passar por várias experiências sociais diferentes num mundo que ele julga não pertencer.


É interessante ver como ele se descobre em cada uma dessas situações. Ryan mostra que pessoas com deficiência podem trabalhar, ter o próprio apartamento e criar vínculos saudáveis com outros, sem ter a deficiência como tema central e constrói uma narrativa que mostra que ele depende das pessoas, mas com limites, afinal ninguém é 100% independente. Apesar disso, é possível ver a quebra do conceito de que pessoas deficientes precisam da ajuda de suas famílias ou entes queridos para tudo, de que não conseguem construir suas vidas sem ter sempre alguém.


Além dessa narrativa que te faz pensar nesses dois pontos e em como a dinâmica de pessoas deficientes funciona com pessoas não-deficientes, que acabam não entendendo algumas de suas necessidades ou assumindo que entendem suas necessidades, as aventuras românticas de Ryan são divertidas, tratando a homossexualidade com um tom natural que não é visto em muitas obras. Sem o tabu batido de ter que “sair do armário” para a família e amigos, sabendo que é aceito por essas pessoas.


No meio de tudo isso ainda tem a Kim (Punam Patel) que fala sobre o empoderamento de mulheres que não se encaixam no padrão de branca, magra e alta imposto pela sociedade. Ela mostra a Ryan que apesar de ter uma atitude autoconfiante, ainda é possível ter momentos de insegurança e fragilidade. Kim se torna sua amiga rapidamente e o ajuda a descobrir formas de passar por novas experiências, conhecer novas pessoas e aceitar seu corpo como ele é.


Ryan passa por muitos desafios na busca pela independência e essa jornada é igualmente importante para ele e para sua mãe Karen (Jessica Hecht), que descobre que é possível ter uma vida adulta novamente e que nem tudo gira em torno do filho, os dois passam a temporada inteira tentando descobrir como viver sem ser codependentes e como formar um vínculo com outras pessoas que surgem em suas vidas.


A série é inovadora, sincera e interessante, cheia de relações conflitantes e que nos fazem ver e entender que as pessoas têm diversos traços bons e ruins na personalidade, são apenas 8 episódios com menos de 20 minutos, mas que valem muito a pena. Contudo, a quantidade de episódios e o tempo curto acabam prejudicando na exploração de algumas relações, deixando-as rasas, além de deixar várias questões em aberto como o desenvolvimento dele com a mãe e também com o interesse amoroso.


Vamos ficar na torcida para que essas questões sejam respondidas na segunda temporada e para que essa não seja mais uma das séries da Netflix que arrasa na representatividade, mas acaba cancelada por falta de divulgação e público.


Por: Carolina Saab



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