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[Resenha] Eu sou fogo e a vida encarnados, agora e para sempre! Eu sou..

Quem disse que a Marvel Comics não tem clássicos?


A Saga da Fênix Negra, um marco nos quadrinhos dos anos 80, foi publicada aqui no Brasil em pelo menos três vezes. Hoje analisaremos esse arco através da publicação feita pela Panini Comics, onde temos um álbum de luxo com capa dura, papel couché, lombada quadrada, alguns extras e, claro, as 14 edições dos X-Men que envolvem a trama.



Aproveitando que esse texto se dá antes da estreia do longa da Fox que retratará essa mesma saga nos cinemas, haverá menções de alguns fatos chaves da trama para melhor comparação com o filme quando o leitor for assisti-lo. Claro, esse é apenas um exercício divertido para se fazer, nenhuma obra tem obrigação de ser semelhante àquela que irá reinterpretar em uma mídia diferente, desde que respeite sua essência. Aliás, já é certo que nem Lilandra, nem o Clube do Inferno, (componentes importantes na hq) estarão presentes no longa protagonizado por Sophie Turner. Então sim, teremos alguns pequenos spoilers da HQ.


Sem mais delongas, iniciaremos nossa análise. A primeira coisa que fazemos ao pegar esse encadernado nas mãos é admirar a capa. Com detalhes envernizados no desenho primoroso de John Byrne, temos em destaque Ciclope sofrendo com uma Jean Grey desacorda em seus braços, enquanto ao fundo a atual equipe dos Fabulosos X-Men (Colossus, Wolverine, Tempestade e Noturno) observam perplexos a situação. Ainda mais distante, os pais da garota lamentam aquela cena fúnebre, com Professor Xavier escondendo o rosto com as mãos em desolação.


Dramático? Diria que sim, é uma história intensa e chocante, e assim foi principalmente na época em que foi lançada. O roteirista, Chris Claremont, fez algo que iria mudar para sempre o mundo dos mutantes. Transformar uma amada heroína em uma vilã sem limites de poder e insanidade ia contra tudo o que

seus colegas escreviam. E a Marvel Comics abraçou a ideia, sendo corajosa o bastante para dar um final surpreendente para a personagem. Mas isso fica para o fim desse texto.


A primeira edição que nos é apresentado se chama “Há algo horrível na ilha Muir!”, que conta basicamente como Jean Grey está lidando com os novos poderes ganhados através do ser cósmico conhecido como Fênix. Ou seja, aqui Jean já se fundiu com a poderosa força em forma de pássaro de fogo, e caso não saiba como isso ocorreu, aí vai: depois de imprevistos no espaço sideral, a mutante usou sua telecinese como escudo para se proteger da radiação solar enquanto levava seus companheiros X-Men de volta para a Terra. Entretanto, esses esforços mentais acabam por ser demais para Jean, que começa a morrer, e aí que surge a Fênix oferecendo ajuda, mas não de graça. Pensando na segurança de seus amigos, a garota aceita. Será que esta situação se repetirá no longa? Essa é só uma das muitas perguntas que farei ao decorrer da análise do quadrinho.


Enfim, essa edição não faz parte do arco da saga da Fênix Negra, na verdade a trama aqui envolve o vilão Proteus e o reencontro da equipe dos X-Men (Jean pensava que seus companheiros haviam morrido na última aventura e vice-versa, sim é confuso), por assim dizer, as 4 primeiras edições do encadernado funcionam quase como um prelúdio do que realmente importa, e para a insanidade crescente que aos poucos toma conta da mente de Jean, que consequentemente fica em desiquilíbrio com seus poderes, muito por conta de Jason Wyngarder, o Mestre Mental como é conhecido. Esse mutante antagonista é de suma importância para a história. Ele fica obcecado por Jean, e ao ser capaz de projetar ilusões na mente de suas vítimas, aos poucos manipula a garota com essa habilidade, administrando nas sombras o seu plano maligno de controlar o poder telepático da mesma em prol do Clube do Inferno, um grupo conceituado no meio da alta sociedade, mas que possui objetivos maléficos.


Porém, pode ser que Jason nem apareça no filme, e que o papel de manipulador fique por conta da atriz Jessica Chastain, já que sua misteriosa personagem sempre aparece nos trailers sussurrando no ouvido de Jean. Teremos uma adaptação desse tipo?


Voltando para o quadrinho, vale destacar o poder invejável que Jean controla nas primeiras páginas. Gosto muito quando ela reorganiza telecineticamente as moléculas de suas roupas para mudar de traje cada vez que gira o corpo, ou quando se exibi ao usar mais de seu talento telecinético para manipular os níveis metabólicos do corpo e neutralizar o frio, sendo capaz de sair em temperaturas baixas como se estivesse numa praia em pleno verão. Seria demais se os diretores produzissem esses pequenos detalhes com uma bela apresentação de efeito visual em Sophie Turner, não?


Bem, após esse breve arco na Escócia, os X-Men retornam para o Instituto Xavier todos juntos novamente em “Deus Poupe o Filho”, a primeira parte da saga da Fênix Negra. E quem eles encontram lá? Professor X, que havia passado um período longe da Terra com sua amante Lilandra, Majestrix do Império Shi’ar (respeita o cadeirante). Mas Ciclope se tornou o líder do grupo na ausência de Charles, e isso reflete na relação entre eles, já que houve uma evolução considerável de postura e amadurecimento dos heróis, algo que o Professor não consegue perceber, os tratando ainda como jovens inexperientes. Entretanto, duvido muito que esse atrito entre líderes será explorado no filme, afinal não teremos Lilandra para que Charles dê uma fugidinha de suas obrigações, não é mesmo? Em todo caso, o Cérebro detecta dois mutantes promissores nas redondezas, e os X-Men se dividem com o objetivo de recrutarem esses novos talentos. O que não sabem é que o Clube do Inferno também partilha desse desejo.



O legal dessa parte é que os mutantes que estão sendo procurados são Kitty Pryde (Lince Negra) e Allison Blair (Cristal). Praticamente a origem dessas personagens incríveis é mostrado nesse arco, o que daria uma grata surpresa se isso fosse transferido para o longa. Mas, como mencionado anteriormente, o Clube do Inferno também está na caça de novos membros, e se puderem corromper Jean Grey no processo, ótimo! Enquanto Xavier, Wolverine, Tempestade e Colussus precisam lidar com a Rainha Branca do Clube, (a telepata poderosíssima Emma Frost), na tentativa de ajudar Kitty com suas recém descobertas habilidades de intangibilidade, a outra parte do grupo formado por Noturno, Ciclope e Fênix, estão à procura de Cristal, sendo surpreendidos por capangas de Jason, que também faz sua parte ao desequilibrar Jean com ilusões mentais de um passado longínquo no qual ambos eram apaixonados.


Sim, é muita informação, mas foco. Nesse passado distante, Jean está vivendo no corpo de uma antepassada (ao que parece), e está levemente desperta dentro do sonho que para si é muito real, mas não sabe bem o que está fazendo aquilo ocorrer em sua cabeça, até pensa se tem ligação com a Força Fênix. Entretanto, ela perde o controle ao ver Jason, sendo facilmente inebriada pela figura do homem, que se mostra seu futuro marido naquela vida. Ambos até se beijam, o problema é que esse ato se dá também no plano atual, e Ciclope vê tal cena. Sem entender nada, Scott Summers se concentra na missão e protege Cristal dos inimigos restantes. Noturno é avisado por Kitty que os outros X-Men foram capturados por Emma Frost, então Ciclope, Fênix e Cristal viajam para o resgate de seus companheiros. Lá, ocorre uma intensa batalha psíquica entre Fênix e Emma. O poder de Jean engole as defesas da Rainha Branca, que aparentemente é obliterada pela força cósmica sem precedentes. Seria interessante algo assim no filme, em?


Com todos à salvo, Ciclope tenta descobrir mais sobre os inimigos que estão enfrentando, e através de Warren, o Anjo, consegue convites para uma festa na sede do Clube do Inferno. Antes disso, há uma cena que se tornou polêmica na época, onde Jean e Scott ficam a sós no alto de um solitário penhasco e fazem amor ao pôr do sol. Penso se veríamos algo assim nas telonas. Mas acho que “impossível” é a palavra aqui.



Não vou me demorar na parte que envolve a batalha dos mutantes contra o Clube do Inferno, afinal eles não estarão no filme. Os X-Men saem vitoriosos depois de muito sofrimento, e Jean derrota o Mestre Mental após vencer suas ilusões, se livrando do controle do vilão. Porém, essa vitória se conteve sobre o laço afetivo que a mesma tinha com seus colegas, e o amor infinito com Scott. Jean é consumida por paixões mundanas, a Força Fênix perde estabilidade, e então eis que surge a impiedosa Fênix Negra.


E não havia pior hora para essa transformação. Enquanto o grupo viajava de volta em seu jatinho, Jean revela que não é mais quem era com uma frase que para sempre ficou marcado na história dos quadrinhos: “Eu sou fogo e a vida encarnados, agora e para sempre! Eu sou Fênix!”.


É nesse momento que ela ataca seus amigos, os vencendo com extrema facilidade, mesmo mostrando bem pouco do potencial que havia atingido como Fênix Negra. Em seguida, ela deixa a Terra atrás de energia para consumir, e encontra numa imensa estrela a satisfação para sua fome. O problema é que essa estrela ficava num sistema solar habitado por um planeta de povo pacifico. Ou seja, bilhões de vidas foram extintas perante a ação de Fênix Negra, tudo isso diante de uma nave Shiar que estava próxima no local. Ao descobrir esse crime assassino, a Majextris, Lilandra, decide eliminar Jean, uma outrora aliada de seu povo, mas que agora ameaça todo o universo com seu poder descontrolado. Aqui fica a questão para o filme. Jean fará algo tão grandioso e imperdoável com seus poderes como nos quadrinhos?


De volta à Terra, a mutante tem breve interação com sua família, mas logo é confrontada pelos X-Men, que mais uma vez são derrotados. Todavia, Charles surge e usa tudo o que tem para trazer a verdadeira Jean Grey de volta, e consegue. Mas nada de final feliz. Quando todos pareciam estar aliviados, são transportados diretamente para o Império Shi’ar, onde Lilandra deseja impor a pena de morte à Jean pelos crimes cometidos anteriormente como Fênix Negra.


Os X-Men não aceitam, e disputam a vida da garota através de um desafio em confronto direto contra a poderosa Guarda Imperial Shiar num território neutro, que seria o lado escuro da lua. Os heróis tentam vencer, lutam bravamente, mas não conseguem. Mas o que não sabem é que Jean, vestida mais vez de Garota Marvel, já havia decidido seu próprio destino: Suicídio. Ciclope nada pôde fazer para salvá-la quando a mesma se colocou na frente de uma arma capaz de a desintegrar. Esse ato era tão impensável na época de publicação que se tornou simplesmente original. A verdade é que o ato de sacrifício é bastante simbólico, algo que o próprio Vigia comenta, admirando o fato de que Jean preferiu morrer como humana e proteger o universo do que se tornar uma Deusa e destruir tudo. Afinal, não havia certeza de que a Fênix Negra não assumiria o controle novamente, e quando isso acontecia, como exemplo do passado, a humana protetora do bem se tornava a personificação da morte e destruição. Jean não poderia correr o risco, não aguentaria isso. Poder corrompe, era o que Charles acreditava, mesmo se no caso a pessoa fosse o que melhor há na humanidade, com muita paixão e inundada bondade, uma verdadeira heroína. E era isso o que Jean Grey era, não uma genocida sem controle.



Será que os diretores do filme terão essa coragem? Na trilogia anterior, Jean morre pelas mãos de Logan, será que aqui ela também terá um fim parecido ou até mesmo cometerá suicídio como nos quadrinhos? Ou eles farão algo por conta própria?


Aliás, há uma segunda escolha. O final original da saga! Sim, há um final feliz. Ou quase... Nesse final, os X-Men perdem a luta, mas Jean permanece viva. Por outro lado, passa por um processo Shiar no qual perde toda sua essência, esquecendo de si mesma para sempre. Jean Grey, Garota Marvel, Fênix Negra... não há mais nada, é literalmente uma nova pessoa. Porém, na época, o editor-chefe da Marvel, Jim Shooter, exigiu a mudança no roteiro por acreditar que um ato tão impiedoso como o de matar um planeta inteiro, não poderia passar impune nem mesmo para os heróis mais queridos dentro da editora. Teria de haver consequência. Sendo assim, o final que veio para as bancas foi o do suicídio de Jean. Obviamente, depois ela retornou a vida, ou melhor, nunca esteve morta, mas isso é papo para outra hora.


O legal é que podemos acompanhar esse final original no encadernado, mas particularmente prefiro outro mesmo, que carrega muito mais sentimento e sentido para a grande heroína que é a Jean. E o mais legal ainda, depois que termina a história, com os X-Men retornando para a Terra e tendo que conviver com a perda, há um extra muito interessante onde há um tipo uma mesa redonda bem-humorada sobre o fim da Fênix, entre John Byrne, o editor-chefe Jim Shooter, o escritor Chris Claremont, e os editores Jim Salicrup e Louise Jones, e Terry Austin (arte-final). Lá você entende mais ou menos como chegaram na conclusão desse clássico dos quadrinhos!


Na minha visão, é uma saga poderosa e imperdível para os fãs dos X-Men. Acontece muuuuuuita coisa, não há como esconder, basta ver o tamanho desse texto, mas vale a pena ler. O roteiro é muito bem trabalhado, e a arte é magnifica, bem característica da Era de Prata, muito colorida com sombreamentos intensos.


Minhas críticas negativas quase nem devem ser levadas a séria, é mais uma coisa de gosto. Por ser dos anos 80, às vezes os diálogos são datados, tem muuuuuito balão, muito texto, e muita repetição do tipo “Esse é Ciclope, o mutante que pode lançar rajadas ópticas”, e isso deixa a leitura um pouco cansativa. Foi um dos quadrinhos que mais demorei pra terminar por conta disso. Mas é uma característica, não um defeito. E é realmente um marco no meio.


Se o filme conseguir transmitir a essência da obra estará de bom tamanho, mas particularmente estou muito positivo com Sophie Turner no papel principal, e mal posso esperar para vê-la sendo FOGO E MORTE nos cinemas!



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