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[Resenha] Bem-vindo à residência dos Visões

Visão - Pouco Pior que Um Homem é uma HQ pela Marvel Comics publicada através da Panini em 2018 aqui no Brasil, sendo este o primeiro volume dessa obra finalizada num segundo volume intitulado Visão - Eu Também Serei Salvo Pelo Amor, no qual cada uma reúne 6 edições roteirizadas pelo aclamado Tom King e desenhadas pelo impactante Gabriel Walita. Originalmente as 12 edições foram publicadas em 2016 nos EUA, mesmo ano em que venceu o Eisner, prêmio máximo da categoria de Comics.



Entretanto, falaremos somente do primeiro volume que se ficou esgotada das livrarias e bancas por um tempo, mas que ganhou relançamento recentemente. Acho que não dá para duvidar que sua publicação por aqui foi um sucesso, não é? Aliás, quem ainda não tem na prateleira é bom correr para não perder essa nova oportunidade.


Eu fui um dos que não perdeu a chance, pois há muito tempo desejava ler essa história e entender os motivos de ser tão aclamada. Admito que o personagem Visão nunca foi atrativo para mim. Na verdade, ele sempre foi coadjuvante nas histórias que eu lia, mesmo quando tinha papel importante na trama, principalmente por ser par romântico da Wanda, a Feiticeira Escarlate facilmente pegava todos os holofotes para si. Entendo toda a complexidade por trás do personagem, uma inteligência artificial criada por outra inteligência artificial e ao mesmo tempo um dos maiores vilões dos Vingadores, mas que ainda assim se virou contra seu Criador para se tornar um herói da Terra. É sim interessante, porém será que ele seria capaz de me fisgar com uma história solo? Bem, ele não só me fisgou como me libertou apenas para me fisgar de novo e provar o quão poderoso pode ser.


Tom King beira a genialidade ao reinventar o personagem e ainda navegar com o enredo em um mar de versatilidade. Temos drama, temos romance, temos suspense, temos ação, e temos curiosamente horror. Há páginas em que você fica olhando espantado pelo que acabou de acontecer, e você simplesmente não consegue sair dela.

É de explodir a cabeça.



A trama básica se constrói em volta da família de Visão, no qual ele próprio criou a partir de si, ou seja, todos os membros possuem as mesmas habilidades que o Vingador sintozoide. Virgínia é sua esposa e dona de casa, enquanto Vin e Viv são seus filhos gêmeos e adolescentes. Eles se mudam para próximo de Washington para que Visão seja o porta voz dos Vingadores na Casa Branca, mas mais do que isso, eles se mudam para um bairro modesto perto na capital do país com o desejo de serem uma família normal americana. Visão busca a normalidade o tempo todo, transmitindo os padrões humanos de uma família tradicional para a sociedade que os cerca, sem ignorar sua responsabilidade como super-herói. É claro que a maioria das pessoas enxerga esse desejo estranho de um “robô” se moldar em ações humanas com maus olhos e com medo, alguns acham uma piada de mal gosto, outros nem mesmo sabem como interagir em determinadas situações.


Mas a família Visão não liga para isso, principalmente o próprio Visão. Ele lê seu jornal de manhã, manda seus filhos para a escola (mesmo que já tenham tudo que é necessário em seus discos rígidos), veste seus ternos para ir trabalhar, volta para a casa para um jantar que contará histórias engraçadas sobre suas aventuras com os Vingadores e por fim vai se deitar na companhia da esposa. Aos poucos entenderá como é de fato ser normal. E sua família o acompanhará nisso. Ele fará qualquer coisa para chegar nesse estágio, para ser mais do que uma máquina, mais do que um herói. Ele fará qualquer coisa. Qualquer coisa. E é aí que mora o perigo.



A artimanha que King usa na narrativa em terceira pessoa nos deixa a par de todas as situações presentes na história, e até em situações futuras, por exemplo na primeira edição que é revelado um futuro nada agradável para certos personagens, provando que o mais importante nessa obra não é o final, e sim os meios que nos levam até lá. Os diálogos são fantásticos, muito por conta do escritor utilizar os “robôs” para discutir, já que se percebe uma lógica irrepreensível em todas as palavras da família Visão, o que vira um paradoxo incomum quando estão discutindo entre si e argumentando um contra o outro. As analogias que King cria também são admiráveis, pois é uma mistura agradável entre realidade cientifica e mitologia dos heróis. Ele passa desde objetos fantásticos de universos da Marvel até monólogos Shakespearianos. O leitor é capaz de reconhecer cada ponto de ligação, e ainda se surpreender. O que falar do capítulo 6 chamado P VS NP? Precisei ler duas vezes a narrativa que se sucede nesse capítulo no qual há uma analogia genial entre possibilidades cientificas e possibilidades humanas, sobre P que representa problemas que um computador pode resolver em um período razoável de tempo e NP que representa problemas solucionáveis, mas com possibilidades infinitas que pode durar bilhões de anos para se encontrar a solução correta.


Tudo isso no meio de um enredo imerso no suspense, no mistério, nos segredos mais sinistros que uma família pode carregar. E cada vez mais a normalidade parece escapar pelos dedos de metal de Visão. A cada página a situação fica mais insustentável, mais macabra, ganhando ares de horror, de estranheza, de que algo não está certo. Mas aí vem um contraponto e o leitor é obrigado a pensar no que realmente é o certo. E acho que é aí que somos fisgados.


Os desenhos de Walita são simplistas e ao mesmo tempo impactantes, justamente para surpreender com uma mudança de cena de repente, mas ele não abandona o cenário heroico, afinal estamos lendo uma HQ de um Vingador. Entretanto, sem dúvidas não é uma HQ comum de super-herói. Talvez por isso seja tão aclamada. E merece.


A revista tem preço de capa de 40 reais, mas se você for na AMAZON na data dessa publicação encontrará por 21,90 reais. Compre e seja bem-vindo a humilde residência dos Visões.


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